sábado, 22 de janeiro de 2011

ele voltou

No pronunciamento em que reconheceu a derrota para Dilma na corrida presidencial encerrada em outubro de 2010, José Serra dissera: ‘Para os que nos imaginam derrotados eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade...Minha mensagem de despedida neste momento não é um adeus, mas um até logo’.

Pois bem. Serra voltou. Depois de um mergulho de pouco mais de dois meses, dedica-se a espinafrar o novo governo no seu microblog. Serra exercita agora todo o oposicionismo que hesitou em praticar no ano passado. Na briga pelo voto, revelou-se capaz de tudo, exceto de se opor a Lula. Na primeira fase da campanha, Serra surpreendeu até os aliados ao levar a foto de Lula à propaganda televisiva, associando sua biografia à do patrono da rival.

Passada a quarentena da derrota, o ex-quase-oposicionista leva às fronteiras da web um antagonismo em seu grau máximo. Nos últimos dias, o Serra do microblog revelou-se um adversário atento. Nada parecia escapar-lhe ao campo de visão. Discorreu sobre o flagelo que produz cadáveres em conta-gotas na região serrana do Rio de Janeiro. Primeiro, mirou em São Pedro: ‘Quaisquer que sejam as responsabilidades históricas e atuais dos governos, as catástrofes decorrentes das chuvas......Têm a ver com o volume inusitado de água nos anos recentes. São verdadeiras mudanças climáticas, que, aliás, envolvem todo o mundo’.

Depois, Serra voltou-se contra a dupla que o fez amargar sua segunda derrota em eleições presidenciais. Soou implacável: ‘As tragédias não serão atenuadas com o gogó. Não bastam anúncios, como os feitos pelo governo Lula-Dilma há um ano e nada acontecer’. Oposicionista retardatário, Serra já nem se importa em flertar com um surto de amnésia. O grão-tucano se esquece de recordar que, até bem pouco, governava uma São Paulo que, submetida à hegemonia tucana, convive com cheias anuais.

Num instante em que o DEM se auto-extirpa numa guerra interna e o PSDB discute o significado do vocábulo ‘refundação’, Serra desce à arena com disposição de leão. Não parece disposto a entregar de mão-beijada ao neo-senador Aécio Neves os títulos de ‘líder da oposição’ e de ‘candidato natural’. Aécio fala em ‘construir pontes’. Serra, antes acomodatício, acomoda dinamite nos pilares. Decifra-se o enigma do ‘até logo’ de outubro. Significa 2014. (texto de Josias de Souza; foto de Lula Marques)